DE ARBORIZAÇÃO, SANTIDADES, BELEZAS, E CONFLITOS
Por mais estranho que possa
parecer, vivo em uma cidade (Cabaceiras - PB), no Cariri Oriental da Paraíba,
onde o sol, graças a Deus, se faz presente de maneira inquestionável. Disso não
reclamo, uma vírgula, já que, na condição de Eng. Agrônomo, sou capaz de
perceber que o que muitos pensam como problema (sêca), eu afirmo como
oportunidade. Mas, é muito estranho receber, frequentemente, solicitações de
pessoas que reclamam tanto do sol, e do calor, pedidos para cortarmos árvores
que estão em suas calçadas, jardins, ou quintais. Até mesmo árvores que não
estão prejudicando estruturas físicas (paredes, calçadas, pavimentos etc). Os
argumentos são dos mais absurdos: - As folhas “sujam” a calçada, e o terraço”;
dizem uns. Outros afirmam que os pássaros que visitam as árvores defecam sobre
seus veículos. Mas, parecem esquecer que a sombra é uma vantagem. Ao menos é o
que eu, puerilmente, penso.
Como elas parecem ser a maioria,
em relação ao pensamento que guardo, estou começando a achar que o louco sou
eu. Começo a desconfiar da minha sanidade. Deve ser muito estranho achar que o
sol é muito quente, e pensar em plantar árvores. Talvez isso seja coisa de
gente sem noção. Como, também, é uma loucura achar que o desperdício de água
potável é um crime de lesa naturae. Talvez
o certo, mesmo, seja reclamar do sol, e derrubar as árvores. Só assim será
possível reclamar do astro rei com conhecimento, e propriedade. Sem árvores, com
temperaturas altas, e sol na moleira, o indivíduo vai reclamar com conhecimento
de cátedra, e razão. Uma razão justa, lógica, inequívoca! Tomo de empréstimo um
verso presente em um música da Legião Urbana
(Eduardo e Mônica) para dar uma ideia da minha estupefação: "Festa estranha
com gente esquisita!", e faço uma paráfrase: Terra estranha com gente
esquisita! Muito esquisita! Claro que há os que apresentam atitude,
completamente, diferente. Plantam, põem água, e fotografam. Gente como Sr. Ivo
que, há anos, disponibiliza água para as plantas do canteiro situado à Avenida
04 de junho. Roberto Joseline Gusmão que produz mudas, e as planta em várias
partes da cidade. E outros cujos nomes não me ocorrem, agora.
Vários estudos apontam o
benefício de árvores, em um município. Tanto na zona rural, como na área do
perímetro urbano (ruas, parques, residências, calçadas, canteiros, áreas verdes
etc). Vão desde a questão do sombreamento, pura, e simplesmente, e por si só,
já seria algo louvável, passando presença de pássaros a procura de frutos,
abrigo etc, que têm o poder de alegrar o amanhecer com seus cantos variados, à
redução da poluição sonora. As árvores, nesse aspecto, absorvem, e barram as
ondas de som, diminuindo os níveis de stress
das pessoas. Além de tudo, ou paralelamente, a arborização urbana permite
um conforto climático que tende a manter a variação de temperatura, em níveis
muito próximos. Em períodos de alta radiação solar, temperatura agradável; em
períodos muito frios, temperatura aceitável.
Logicamente, estamos falando em
linhas gerais. Há que pensar em espécies florestais, e frutíferas, que sejam
tolerantes à poluição, e que sejam destinadas, corretamente, aos espaços.
Árvores com raízes muito fortes, e que se espalham horizontalmente, não podem
ser plantadas em calçadas. Espécies que alcançam mais de 4 (quatro) metros
devem ser evitadas, em áreas com redes elétricas de alta tensão. Necessita-se,
ainda, atentar para veículos altos que trafegam por determinadas ruas (ônibus,
caminhões, carretas etc) E, assim, por diante.
Arborização vai muito além de
plantar árvores. Exige conhecimento das espécies, e levantamento das áreas da
cidade aptas a receberem cada uma delas. Exigem, ainda, acompanhamento do
crescimento-desenvolvimento, com fiscalizações sistemáticas, e capacitação de
pessoal para os vários tipos de poda que cada espécie aceita. É comum,
rotineiro presenciarmos as chamadas podas draconianas. Aquelas em que ficamos a
pensar que a real intenção de quem “podou” era retirar a copa da planta, e
deixar só o tronco. Talvez seja o reflexo de algum desejo íntimo de olhar para
um falo simbólico. Vai saber?!
Falar sobre a questão do venenoso
gás carbônico para nós seres humanos, é redundante, mas sempre necessário.
Desde as aulas de Ciências que boa parte das pessoas sabe que as plantas, de
maneira geral, fazem a transformação, por assim dizer, do CO2 (dióxido de
carbono), em O2 (oxigênio). Este que é, extremamente, vital para todos nós. Como
não pensar em plantar mais árvores? Como querer derrubá-las ante a menor
contrariedade? Como é possível não parar, um segundo, para enumerar as
vantagens? Muitos são casos de doenças do aparelho respiratório, em crianças, e
idosos, que têm origem na poluição ambiental (partículas lançadas por veículos
automotivos, queimadas de restos de cultura etc), e que podem ser minimizadas
por uma arborização eficiente, reduzindo a entrada de tais partículas
poluidoras, em nossas casas.
Importa, ainda, lembrarmos que
muitas são as espécies com propriedades medicinais. A aroeira¹, por exemplo, planta da
família das Anarcadiaceae (a mesma a que pertence o cajueiro) possui
propriedades tanantes, aromáticas, e inseticidas, apícolas, e medicinais,
dentre outras. São propriedades que servem para tingir couros, aromatizar
produtos cosméticos, substâncias biocidas para a mosca doméstica, flores para
abelhas produtoras de mel, e remédios para diarreias, problemas uterinos,
cicatrizações, dentre várias outras, respectivamente.
E o que dizer das flores? “Para não dizer que não falei
das flores”, embora considere redundância falar de suas belezas (Sim! As
flores não possuem uma beleza. Possuem várias, ao mesmo tempo.), não me
furtarei a dizer algo sobre. Quando falamos de abelhas, de frutos, de pássaros,
de animais, de pessoas etc, estamos, sem dúvidas, falando de flores. São elas
que proporcionam alimento para várias espécies, quando polinizadas por insetos,
morcegos, pelo vento, pela chuva etc. Mas possuem uma outra fonte a ser usufruída
por nós, e por outros bichos: a beleza. Beleza que se traduz em pétalas,
sépalas, e todos os demais elementos da arquitetura floral, a exemplo de
estigmas, estiletes, ovários, anteras etc, cores, em escalas infinitas de
tonalidades que exercem atração sobre nós, como a querer nos fazer entender que
somos parte do aspecto natural da paisagem. Não há quem não se admire com o
tapete formado por flores amarelas que caem da craibeira, dos ipês (roxo,
branco, amarelo, vermelho), do flamboyant, e tantas outras. Atraem tanto que,
anualmente, são utilizadas, na Semana Santa, em vários municípios do Brasil
para comporem tapetes onde passarão procissões de homenagem ao Nosso Mestre
Jesus.
REFERÊNCIAS
2. DANTAS,
Ivan Coelho. Manual de Arborização Urbana. Ivan Coelho Dantas, Délcio de Castro
Filismino, Sandra Maria Silva, Tiago Pereira Chaves. Campina Grande, EUEPB, 2010.
96 p. Il. Color;
Engenheiro Agrônomo Armistrong de A. Souto
CREA-PB RN: 160029789-7Espec. Gerenciamento Ambiental
Tutor à Distância de Plantas Medicinais
Disciplina Optativa do 6º período.
UAB-UFPB-Virtual Polo Cabaceiras-PB
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